quarta-feira, 30 de maio de 2012

OS SERES DO AMANHÃ 2- ÍNDIGOS E CRISTAL

                 

                            O ciclo pós-patriarcal


Espero que o meu primeiro artigo sobre as crianças índigo tenha causado ao menos uma inquietação em você, leitor, pois eu o escrevi realmente para fazer uma provocação, para levar a uma posição, seja a favor ou contra, não importa, desde que se reflita sobre o tema.
Agora, pretendo sistematizar meu pensamento, dando-lhe subsídios mais consistentes de análise. Como se diz popularmente: “Vamos colocar os pingos nos is.”

Convido-os, gentilmente,  para seguir comigo nesta busca de entendimento para as mudanças da nossa sociedade.

“O que foi é o que será. O que foi feito é o que se fará. Não há nada de novo sob o sol. Se de alguma se disser: “ Vê, isso é novo”, esta coisa já existiu nos séculos que nos precederam.”
                                                                                                                (Eclesiastes, I, 9-10)

Falar sobre as sociedades matriarcal e patriarcal é algo muito complexo, e pode ser analisado sob diversas óticas. Fundamentalmente estarei centrando meu pensamento na obra de Joseph Campbell e em conceitos de Carlos Byington.

A citação dos Eclesiastes, me parece, descreve de forma lacônica a extensa teoria sobre mitologia comparativa de Campbell. Diz ele: “ O estudo comparativo das mitologias do mundo nos compele a ver a história cultural da humanidade como uma unidade; pois achamos que temas como o roubo do fogo, o dilúvio, a terra dos mortos, o nascido de uma virgem e o herói ressuscitado estão presentes no mundo todo.” “(...) Não foi encontrada ainda nenhuma sociedade humana na qual tais motivos mitológicos não tenham sido repetidos em liturgias; interpretados por profetas, poetas, teólogos ou filósofos(...)”(op cit., pág. 15).

É como a geologia que estuda as camadas sedimentadas dos solos ao longo das eras e a mistura de cada uma delas nas diferentes regiões formando padrões totalmente distintos entre si, mas oriundos de um mesmo subtrato. Grosseiramente, isso é  arquétipo e o inconsciente é o terreno no qual repousa o solo sedimentado.

Vamos recuar no tempo e pensar como nossa história começou. Sociedades primitivas e migratórias desenvolviam-se. Primeiramente de  natureza matriarcal, depois de natureza patriarcal e muito frequentemente coexistiam. Basicamente as sociedades paleolíticas (Paleolítico Inferior e Paleolítico Superior) eram matriarcais e caracterizavam-se pela forma passiva de atuação do homem para a obtenção de sua subsistência .Elas eram coletoras que retiravam da natureza o que esta oferecia ( caça, pesca, extração de moluscos, ovos, raízes e frutos). Quando acabava o alimento daquele local, migravam para outro e assim sucessivamente. No período Paleolítico Inferior os homens aprenderam a dominar o fogo e esse controle  diminuiu a dependência do meio natural. Assim aqueciam-se do frio, iluminavam a noite, defendiam-se de animais, cozinhavam alimentos e, bem mais tarde, passou a cozer a argila e fundir metais. A produção de ferramentas desenvolveu-se muito no Paleolítico Inferior, primeiramente utilizando a pedra lascada e a seguir o núcleo dos blocos originais.

O Homo sapiens apareceu por volta de 25000 a.C, que corresponde ao Paleolítico Superior e já utilizavam o marfim, ossos e pedras para sua ferramentas. Inventaram o arco e a flecha e a lança para a caça. Além de passar a pescar com anzol e linha. Foi lento o processo de desenvolvimento verificado em certas comunidades e sob condições históricas específicas, que fez com essas comunidades dessem um  salto  e passassem a cultivar plantas e domesticar animais, passando então a produtores de alimentos. É a chamada Revolução Neolítica ou Revolução Agrícola (10.000 a.C- 5.000 a.C), na qual a mulher desempenhou papel fundamental. A princípio, muito provavelmente, o cultivo da terra foi uma atividade  praticada pelas mulheres, assim como a coleta de frutos e raízes comestíveis. A caça era atividade masculina.

Nesta comunidade primitiva a mulher tinha posição de destaque e mesmo superioridade em relação ao homem. E isso devido à sua condição de criadora, fixadora e transmissora de conhecimento, das experiências praticadas pelo grupo. Devido ao grande número de casamentos, a descendência era determinada pela mãe- direito materno ( matriarcado). Somente mais tarde, com o surgimento da propriedade privada dos rebanhos, das ferramentas e depois da terra, é que  a descendência passou a ser feita pelo pai, para garantir o direito dos filhos à herança- direito paterno ( patriarcado). A monogamia foi , então, imposta para a mulher, a fim de garantir  aos homens a paternidade e legitimar seus filhos . Por volta de 5.000 a.C a Revolução Urbana  favorece o surgimento de sistemas de escrita e contagem e estabelece-se o domíno patriarcal.

Segundo Carlos Byington, “A Teoria Simbólica da História busca aplicar o conceito de símbolo estruturante e Self Cultural para compreender os acontecimentos históricos através da sua função simbólica na estruturação da Consciência Coletiva de cada cultura. Trata-se de tentar compreender o histórico na dimensão simbólica como vínculo do aqui e agora e suas raízes históricas com as estruturas ou arquétipos do Inconsciente Coletivo...”(op.cit. pág 120/121).
“O conceito de Self Cultural, como conceito psicológico que é, engloba, através da noção de Símbolo Estruturante, todas as funções da cultura e as subordina ao desenvolvimento psicológico humano.” (...) “A dimensão psíquica é assim concebida como essência do ontológico e, por isso, ao ser tomada como parâmetro de totalidade, preserva a integridade do ser humano no nível individual e social, evitando enfoques unilaterais que conduzem ao redutivismo.”(op.cit. pág. 136) (...) “O conceito de Self Cultural se fundamenta na diferenciação e organização das funções culturais subordinadas a quatro estruturas básicas de organização de Self e da Consciência, denominadas matriarcal, patriarcal, de alteridade e cósmica.”(op.cit. pág. 136).
(...) “ Percebendo-se o Self Cultural como uma estrutura que coordena e padroniza o desenvolvimento individual e cultural, podemos descrever (essas) quatro estruturas básicas,  através das quais o self orienta esse desenvolvimento. Estas quatro estruturas são evolutivas no desenvolvimento individual, quando se constituem como ciclos estruturantes de implantação sucessiva, e perduram durante toda a vida.” ( op.cit. pág.137).

Espero que estejam seguindo a minha linha de raciocínio até aqui, para entender que tanto social como individualmente  nossa evolução, enquanto espécie, se faz através de padrões que se repetem e se consolidaram, superando-se, misturando-se e repetindo-se sempre, até que gradativamente ocorre uma mudança significativa na consciência. A seguir, farei um breve resumo dos dinamismos matriarcal, patriarcal e de alteridade, citando textualmente o próprio Byington.

·         Dinamismo matriarcal

“O dinamismo matriarcal deve  ser compreendido no seu aspecto psicológico como um padrão de organização da personalidade, da cultura, da Consciência individual e Coletiva. Sua característica principal é a proximidade da Consciência dos processos inconscientes, o que da à Consciência uma discriminação, como se fosse, mais compatível com a claridade lunar do que com a solar. Suas discriminações, por isso, não são rígidas e preservam uma capacidade muito grande de se transformarem frequentemente, invertendo as polaridades discriminadas, quase que inconscientemente, em função das necessidades do momento. São discriminacões lábeis essencialmente pragmáticas e, por isso, com pouquíssimo dogmatismo abstrato, sujeitas a serem novamente indiscriminadas, cedendo lugar a outros símbolos estruturantes com outras discriminações, quase que como ilhas que afloram e submergem com o movimento das marés. Seria, porém, erro grave achar que elas sumiram e que o pensamento matriarcal é pré-lógico, pois, logo em seguida, dependendo da maré, lá estão aquelas ilhas, aqueles núcleos de consciência, firmes como nunca, discriminados e adequados à realidade, de forma, não raro, surpreendentemente inteligente. Esta habilidade do discurso matriarcal, oriunda de sua proximidade do inconsciente, faz com que este dinamismo necessite de expressão ritualística, geralmente com abundante expressão de sensorial rítmica musicada e dançada, para expressar e manter as discriminações matriarcais. Por outro lado, porém, é a própria labilidade do dinamismo matriarcal que faz com ele, um vez estruturado ritualísticamente, se constitua em hábitos culturais seculares dos quais a Consciência Coletiva dificilmente abre mão para mudar.”( op. Cit. Pág141).

·         Dinamismo patriarcal

“Os ciclos simbólicos estruturantes não se diferenciam entre si pela presença deste ou daquele Símbolo, desta ou daquela função psíquica e sim pelo padrão que rege a estruturação e que orientará o relacionamento do Eu e do Outro na Consciência por ele estrturada. O padrão patriarcal funciona como uma discriminação muito mais rígida e maniqueísta dos pólos de cada símbolo do que o padrão matriarcal. Por isso, em todo padrão patriarcal de qualquer cultura ou personalidade vamos encontrar um grau determinado de rididez na colocação dos limites de suas discriminações. Esta rigidez expressa o grau do componente repressivo sempre presente, que traz consigo uma maior ou menor elitização na discriminação dos pólos dos Símbolos. Isto quer dizer que a estruturação da Consciência pelo padrão patriarcal se faz sempre através de uma determinada repressão em nome de uma lei e ordem abstratas, que fazem com que a Consciência Individual ou Coletiva seja codificada e organizada de forma relativamente repressiva e elitista no relacionamento do Eu com o Outro.(...) Há sempre uma tendência a separar nitidamente o que é do Eu  e o que é do Outro, bem como a separar nitidamente os pólos antiéticos dos símbolos estruturantes e a codificá-los de forma elitizada”.(op.cit. pág. 149)

·         Dinamismo de alteridade

“Os símbolos estruturantes do Novo Testamento quando percebidos dentro da conceituação do Eixo Ego-Self expressam, sem sombra de dúvida, um padrão de estruturação da Consciência muito diferente do padrão patriarcal e que ao mesmo tempo, não coincide com o padrão matriarcal. Percebem-se componentes matriarcais e patriarcais interagindo num padrão de consciência muito diferenciado e desenvolvido que o padrão matriarcal e patriarcal. Denominei-o de padrão de alteridade (alter = outro) porque nele a Consciência se torna capaz pela primeira vez de perceber a si mesma, ao mesmo tempo em que se percebe e ao Outro em  relação ao todo. Alteridade não é simplesmente um padrão igualitário de relacionamento do Eu com o Outro isoladamente, mas do Eu com o Outro relacionados significativamente, ou seja, conscientemente dentro do processo de transformação do todo. Na vivência da alteridade o Eu  se torna capaz de vivenciar a dualidade na unidade. No padrão de alteridade, o relacionamento do Eu e do Outro inclui, simultaneamente, o elemento erótico aglutinador do dinamismo matriarcal e o elemento dogmaticamente discriminador do dinamismo patriarcal no qual  a identidade e a separação do Eu e do Outro são claramente mantidas na Consciência. (...) O padrão de alteridade, como qualquer outro padrão estruturante, é, assim, inseparável do contexto evolutivo. Contudo, enquanto nos padrões parentais (matriarcal e patriarcal) o todo é pecebido coordenando a relação do Eu e do Outro através do desejo ou necessidade de sobrevivência e vitalidade (matriarcal), ou de subordinação à lei tradicionalmente revelada e dogmatizada, para o desempenho de tarefas abstratamente codificadas (patriarcal), na alteridade o Eu se relaciona com o Outro igualmente e desse relacionamento percebe criativa e dialéticamente o desenvolvimento processual do todo, passando a se tornar co-autor consciente e co-responsável por sua História.” (op.cit. pág 156).

Bem, agora que está  conceituada e definida minha linha de pensamento, vamos voltar aos Seres do Amanhã ou crianças índigo, como me referi a eles em meu texto anterior. Naquela ocasião falei das mudanças que observo na nossa sociedade como um esgotamento da sociedade de ordem patriarcal. 
“É como se a sociedade patriarcal em que vivemos estivesse chegando ao seu limite. Um passo em direção a alteridade precisa ser tomado, não apenas enquanto indivíduos, mas enquanto consciência limite da sociedade.” disse então.

Utilizar o conceito de  crianças índigo pressupõe algumas crenças como reencarnação, metafísica ou até mesmo para alguns misticismo, o que limita muito a aceitação da grande mudança social que vivemos e precisamos viver. Não que eu pessoalmente não compartilhe dessas crenças, mas é que ao lidarmos com o social, temos que buscar o que é mais viável para o todo, para um maior número de indivíduos, independente de seus dogmas particulares.

Assim, penso que ao invés de dizermos que estes seres são índigos, poderíamos simplesmente dizer que a humanidade está cada vez mais inserida no dinamismo de alteridade e que as contestações e a recusa às regras pré-estabelecidas e rígidas, fazem parte de Egos cada vez mais estruturados  dentro do dinamismo de alteridade.

Como o desenvolvimento dessas estruturas é evolutivo, num primeiro momento a Consciência norteada pelo ciclo de alteridade era esporádica, como pingos de chuva que caem aqui e ali sem fazer muita água. Mas com o passar do tempo essa evolução vai se intensificando, a diferenciação vai aumentando e atualmente vivemos sob uma chuva torrencial que vem causando muitas inundações.

Não é fácil para uma estrutura de consciência de alteridade conviver, sem choque, com a rigidez patriarcal ou a passividade matriarcal. Por outro lado não é fácil para crianças que ainda nem sabem se expressar adequadamente, questionar seus pais sem serem tidos como agressivos, rebeldes ou anti-socias. Não aqueles pais que, imersos no dinamismo patriarcal, não suportam ver a ordem “naturalmente” hierarquizada da sociedade ameaçada. Daí o conflito.

Quando disse anteriormente que essas crianças estavam sendo transformadas em avatares da humanidade para ofuscar o trabalho que individualmente devemos fazer enquanto desenvolvimento das nossas personalidades, é porque o dinamismo de alteridade faz com tenhamos de viver com consciência do presente 24 horas por dia. E isso, creiam, é exaustivo para quem ainda não integrou suas instâncias psíquicas. Não é fácil para pais conviverem com crianças de tenra idade que os colocam contra a parede, exigindo um grau de elaboração das respostas que muitas vezes nem mesmo os adultos de suas relações estão prontos para dar.  Crianças que não aceitam desculpas ou “mentirinhas de conveniência” como respostas e esperam sempre uma transparência de ações, sentimentos e atitudes. É opressivo para ambos.

Temos, ainda, de ter em mente que os ciclos matriarcal e patriarcal não são bons nem maus em si próprios. Tanto um com outro são necessários e parte integrante do nosso desenvolvimento, mas a unilateralidade em um deles gera distúrbios, quer sociais, quer individuais. Atualmente, a predominância do dinamismo patriarcal sobre os outros dinamismos estruturantes está gerando uma sociedade doente. Citando mais uma vez o texto primoroso de Byington: “O dinamismo patriarcal fabrica no momento o maior arsenal armamentista farmacológico com que já se combateu uma doença. Ao corpo que clama, através de sintomas, por uma vida humana mais íntegra, mais ecológica no sentido da natureza, mas também do corpo, da sociedade e das emoções, responde-se com centenas de milhões de comprimidos de psicofármacos para reprimí-lo.” (op.cit. pág. 143)

Acho que a partir daí explicamos o porquê de tantos diagnósticos de Transtornos de Personalidade, TOC, Hiperatividade, DDA, TDAH... Assim podemos medicá-los, assim a Ritalina e os anti-depressivos  podem ser a bola da vez... E assim os nossos adolescentes, sem nenhuma perspectiva de fazer hoje a transformação da sociedade para a qual geneticamente estão sendo preparados lenta e gradativamente através do processo evolutivo, recorrem ao “cutting”, às tentativas de suicídio, para sentirem que o sangue que corre em  suas veias é real. Que sentem a opressão em seu peito por terem de participar  de uma sociedade doente, mas que os apontam a eles próprios como doentes porque querem expressar hoje os Seres que São e não continuar esperando pelos Seres do Amanhã.

Apesar de ser muito bem vinda essa mudança de consciência, neste momento ela ainda é muito tumultuada. Nem tudo são flores para os índigos ou para os indignados. Pelo contrário, às vezes parece que ao invés de ter surgido uma nova cor, sumiram todas as cores e o cinza dos dias de tempestade impera.
Mas é somente depois da chuva que vemos o arco-iris e aí tudo é multi-colorido.

No próximo texto, que será menos conceitual, pretendo falar sobre os índigos e as relações familiares.
Agradeço a sua companhia e estaremos juntos em breve, em mais um Amanhã.




Bibliografia


·         Campbell, Joseph -  As Máscaras de Deus- Mitologia Primitiva”,editora Palas Athena, 4º edição, RJ.
·         Byington, Carlos- “Uma Teoria Simbólica da História. O Mito Cristão como principal Símbolo Estruturante do Padrão de Alteridade na Cultura Ocidental, in JUNGUIANA Revista da sociedade Brasileira de Psicolgia Analítica nº 1/ 1983.
·         Aquino,Denize, Oscar- “História das Sociedades – das Comunidades primitivas às sociedades Medievais, Ao Livro Técnico, RJ, 1980.
·         Carroll, Lee * Tober, Jan- “Crianças Índigo”, Butterffly Editora, SP, 2005.

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