domingo, 8 de maio de 2011

Maternidade!!!

Ainda não tinha me recuperado da surpresa do teste de gravidez, já que para a ciência eu nunca engravidaria naturalmente, sem Reprodução Assistida. Estava ainda atordoada quando, três dias depois desta confirmação, fui fazer a primeira ultrassonografia.
Lá estava aquele pequeno ponto de Luz pulsando em meu ventre! Não pude conter as lágrimas... Eu iria ser mãe!!!! Fui arrebatada pelo melhor e mais intenso sentimento de plenitude que já havia tido em toda minha vida. Eu estava completa. Eu estava preenchida. O preenchimento de meu útero por aquele pequeno ponto de luz me dava a dimensão de uma outra instância do feminino: SER MÃE.
A partir daquele momento tudo mudou. Minha vida mudou. Eu que já vinha desejando e me preparando para isso há tanto tempo, descobri minha experiência mais duradoura : SER MÃE.

Quando a mulher engravida passa por uma mudança intensa e complexa. Uma mudança BIO-PSICO-SOCIAL.
BIO refere-se às transformações biológicas, corporais, hormonais que irá enfrentar durantes os próximos 9 meses. PSICO, naturalmente esta relacionado a todo conjunto de mudanças emocionais, cognitivas, conscientes ou inconscientes que ocorrem neste período. E SOCIAl, porque é claro que a vida desta mulher jamais será a mesma depois desta experiência, além de estar ligada aos modelos e perspectivas do que é ser mãe na sociedade em que esta mulher vive.
A sensação ou a percepção de ser mãe está relacionada a todos estes fatores, com ênfase diferente para cada uma. Os hormônios da gravidez, principalmente Estrogênio, Progesterona e Prolactina, inundam o organismo da mulher, causando mudanças físicas e psicológicas, promovendo a sensação de proteção, nutrição e cuidados que garantam o bem-estar do feto e mais tarde do bebê. Para algumas mulheres, essa é um importante gatilho para o despertar desse sentimento de ser mãe.
As mudanças psicológicas podem se manifestar desde o início da gravidez ou até mesmo antes dele. Dentro de uma visão junguiana, arquétipos da Grande Mãe são constelados, ou seja, toda a experiência acumulada pela humanidade e as experiências pessoais desta única mulher com sua mãe e com a maternidade, provocam uma pressão interna em sua personalidade despertando nesta mulher   essa identidade materna, sendo ativados os núcleos de cuidado, nutrição, afeto, proteção, continuidade de si mesma através e para além de um filho. É muito prazeroso e forte esse sentimento.
O valor social de ter um filho, de ser mãe é também determinante para o surgimento da identidade materna. Uma sociedade que priorize a profissão em detrimento à maternidade pode ter um impacto negativo sobre a aceitação deste sentimento materno, bem como pode ser carente de modelos positivos que ajudem a mulher a se identificar com a maternagem, ou seja, os cuidados com o bebê.
Nenhum destes fatores podem ser considerados separadamente, mas para cada mulher o peso de cada um deles é diferente. Para umas são os hormônios, para outras os modelos e assim por diante, respeitando a individualidade de cada uma. E é essa individualidade que faz com as mulheres despertem para a maternidade em momentos diferentes, não há regras. E isso pode mudar de inclusive de uma gravidez  para outra, para uma mesma mulher.
Temos que lembrar também que na maioria dos casos esse sentimento é muito desejado e positivo, mas de acordo com o momento e as condições em que ocorre a gravidez na vida de uma mulher, pode ser rejeitado e complicado.
Nunca podemos afirmar a priore se uma mulher esta preparada para ser mãe, até porque essa experiência é tão intensa que vai se modificando dia-a-dia. Às vezes somos mães bem antes de termos filhos biológicos ou do coração, às vezes mesmo sem tê-los, mas nossa postura diante da vida é maternal com todos: sobrinhos, amigos, filhos dos amigos.
Não sei dizer se existe o instinto materno, essa é uma discussão muito acirrada ainda hoje nos meios científicos, antropológicos. Mas o que sei, isto sim, é que quando uma mulher se entrega a esse sentimento, a plenitude toma conta dela e podemos alimentar a esperança da continuidade da espécie, do planeta, da Vida.
Um beijo muito especial.
Feliz dia das Mães!


terça-feira, 3 de maio de 2011

MÃE


Minha Mãe
Vinicius de Moraes

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora.  Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.

O poema acima foi extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 186.
Conheça a vida e a obra do autor em "Biografias".